Saltar para o conteúdo
12/03/2012 / Paulo Wainberg

Vida sem fim

Vida sem fim será, provavelmente o título de um livro que está lançando fagulhas em minha mente. Ainda não sei o que significa vida sem fim, mas sei que nada tem a ver com eternidade. O que me sugere, a frase, é mais próximo de excesso, demasia, algo que deveria terminar e não termina. Uma dor de dente? Ataque de apendicite? Vida sem fim é um espasmo incontrolável, uma convulsão, ou uma dádiva cruel. Por que me acordo às cinco horas da madrugada, sem sono e com receio do dia que vem aí? Que excedente de culpa não me deixa despertar em paz? Quem quer paz? Imagino uma vida tranquila, nenhuma preocupação ou compromisso, nada que eu não queira fazer e, só de imaginar, sinto um cansaço, uma inútil urgência, a verdadeira chatice. Eu queria não ter de mudar nada, mas não gosto do jeito que está. Nem quero gostar. Vida sem fim é, talvez, colocar tudo isto diante do espelho e pensar que só vem coisa boa, que o prazer está me esperando logo ali, que é tão bom ser feliz com as pequenas coisas, que nada é mais grandioso do que o detalhe. Ser capaz de esquecer de tudo e, durante horas, admirar o vôo de um pardal ou o estranho desenho feito pelo desgaste da pintura numa parede do edifício. E depois sair andando, satisfeito da vida, com a sensação de missão cumprida. Van Gogh, alguma vez ficou feliz por ter acertado o amarelo perfeito de suas margaridas? E foi dormir em paz para, em paz, acordar no outro dia?  Castro Alves tossia, tranquilo, após concluir o Navio Negreiro? Lorival Souza estava feliz, tomando cerveja com seus amigos, depois de um dia de trabalho na construção? Vida sem fim, com certeza. Tal qual Plinius, oleiro na Roma Antiga. Nero, incendiando a cidade. Napoleão reconquistando o trono. Zé Antônio, cobrador da linha T. Sim, Vida sem fim será o título de um romance que vou escrever um dia, quando acordar na madrugada, sem sono e sem medo, olhando o dia passar como uma banda formada apenas por contrabaixos e violoncelos, cruzando as ruas da cidade e entoando, em ritmo de marcha, um réquiem de Mozart ou de Verdi para alegrar os corações empedernidos.

One Comment

Deixe um Comentário
  1. Kathlene Leighty / Abr 10 2013 0:54

    I do agree with all the ideas you have presented in your post. They are very convincing and will certainly work. Still, the posts are very short for beginners. Could you please extend them a little from next time? Thanks for the post.

    Gostar

Deixe um comentário