Presente grego
As antigas civilizações viviam felizes com suas crenças, seus tótens, ídolos e deuses. Ninguém do povo ousava duvidar dos ensinamentos divinos, dos poderes dos sóis, luas, raios e trovões.
Adaptavam-se às percepções sensoriais, acreditavam nas interpretações dos pajés, aceitavam as ordens do curandeiro, caçavam, guerreavam e se reproduziam sem qualquer conflito interno, com crenças sólidas e dúvidas ausentes.
Aí os gregos resolveram questionar os próprios sentidos e sairam em busca da origem da vida. Foi o primeiro grande trauma imposto à Humanidade, se vínhamos da água, do fogo, da terra e do ar, tudo bem, pré-socráticos acreditaram nisso e, por um tempo, viveram felizes.
Durou pouco, em seguida, não satisfeitos em saber de onde vinham, quiseram saber para onde iam e daí para a busca do significado da vida, foi um passo pequeno.
O grande presente grego não foi o cavalo de Tróia, um engodo militar para vencer uma guerra. Nada disto.
O verdadeiro presente grego foi a filosofia, essa maldita filosofia que retirou-nos o descanso e a aceitação da realidade, da vida como ela, como começa e termina e ponto final.
Nada disto. Os gregos e seus presentes, hein?
Por causa deles a alma passou a conviver conosco, a ideia de uma eternidade pela frente, após a morte, assumiu o controle e nós, pobres legatários de tantas hipóteses, até hoje no debatemos entre a fé e a dúvida, até hoje nos armamos contra isto e contra aquilo, transformamos as guerras primitivas de simples conquista e poder num exercício metafísico em busca da justifica de qualquer coisa que fazemos.
Viver e morrer não era problema, na antiguidade.
Depois dos gregos e seu maldito presente, no mundo moderno e pós moderno viver e morrer são nossas grandes angústias, vivos temos que nos entender, mortos… não sabemos.
Como costuma acontecer com os curiosos, a civilização grega foi para o espaço, o gato comeu sua língua, mas o presente que nos deram ainda arde como fogo em nosso lombo.
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