Piedade
Michelangelo esculpiu a Pietá, Maria com o corpo de Jesus. Deu à obra o título, Piedade em português, expressando não o sentimento de Maria, de dor e sofrimento com seu filho morto no colo, mas o sentimento impossível de não sentir, diante da pior tragédia da vida, a mãe que perde um filho.
O simbolismo do título é tão grandioso quanto a impresssionante escultura, com seus detalhes anatômicos, o conjunto perfeito e o sofrimento estampado no rosto e na pose de Maria, perplexa e impotente, segurando seu filho como quem quer transferir sua vida para ele.
Piedade é o que sentimos diante do sofrimento alheio, que os tempos modernos quase banaliza pela quantidade de eventos. Fotos nos jornais e imagens na televisão, constantes e diárias, amorteceram a piedade em nossos corações e, diante de uma mãe chorando a morte do filho, mal nos comovemos e, não é incomum, até nos regozijamos, caso o filho morto daquela mãe seja um bandido abatido pela polícia.
Bombas que matam cinco e ferem vinte e oito no Paquistão ou no Iraque, não nos atingem além de uma simples constatação estatística, sem qualquer piedade nem o mais leve sentimento de pena.
Se a tragédia ocorre próxima a nós, cabe-nos sentir piedade, entretanto misturamos o sentimento com a própria dor, na proporção da proximidade do fato conosco.
Piedade é um sentimento em desuso, tanto quanto a caridade, esta, então, que nos querem impor em cada esquina onde haja um sinal de trânsito fechado.
Michelangelo não inventou a Pietá, Maria com Jesus morto no colo. Antes dele outros já haviam aprontado suas pietás e, depois dele também.
Mas nenhuma conseguiu expressar a intensidade da Pietá da Basílica de São Pedro, no Vaticano, a ponto de nos fazer refletir sobre sentimentos nobres que todos deveriamos estar, o tempo todo, sentindo.
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