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19/04/2012 / Paulo Wainberg

Nova entrevista

 
hellenstuffs.blogspot.com.br
 
Olá pessoal! Tive o prazer de entrevistar o autor do livro Unhas, cuja resenha já foi publicada no blog (veja AQUI), Paulo Wainberg. Ele foi bastante simpático e direto em suas respostas. Respondeu perguntas pessoais e contou um pouco sobre Unhas e seu processo de criação.
Conheça um pouco sobre o autor considerado por muitos leitores como polêmico, e na minha opinião um excelênte escritor. Espero que gostem!HS: Antes de mais nada eu gostaria de saber um pouquinho sobre o Paulo Wainberg, onde nasceu, cresceu e onde mora atualmente.
Paulo: Nasci em Porto Alegre, onde sempre vivi e onde moro até hoje. Adoro minha cidade e nunca pensei em morar em outro lugar. De certa forma, vi a cidade crescer e se desenvolver, aqui estão minhas raízes, meus amigos, minha família. Uma das coisas de que mais gosto é voltar para Porto Alegre, sempre que viajo. Cada vez que volto é como se estivesse chegando ao lugar seguro, ao encontro da “minha gente”. Acho que isto, de alguma forma, influenciou muito minha literatura. O cenário de meus romances é sempre Porto Alegre, embora nunca, em nenhum livro, tenha mencionado o nome da cidade. Mas quem a conhece, certemente irá identificá-la.

HS: Como foi que você se tornou escritor?
Paulo: Antes de me tornar escritor, fui um grande leitor, um devorador de livros, minha média era de três livros por semana. Sempre gostei de ficção e nunca tive muito interesse por biografias. As biografias me parecem uma invasão da vida alheia, coisa que, no meu dia a dia, simplesmente detesto. Comecei a escrever muito cedo, ainda no colégio. Minhas redações eram lidas para a classe porque eu sempre ia além do tema solicitado. Comecei a escrever contos, poemas e crônicas aí pelos treze anos de idade, mas nunca pensei em publicar os textos e guardava tudo numa gaveta. Foi assim até que minha esposa, um dia, mostrou meus textos para um professor de literatura que, entusiasmado, enviou para um editora que, assim, para meu espanto, publicou meu primeiro livro.
Não sei como me tornei escritor, a sensação é a de que nasci escritor.

HS: Qual foi seu primeiro livro e qual a sensação ao vê-lo publicado?
Paulo: Meu primeiro livro foi Conversa de Verão, crônicas que, como disse, foram selecionadas por um professor de literatura e pelo editor. A sensaçõa de vê-lo publicado foi estranha, uma espécie de irrealidade. Quando vi o livro pela primeira vez pareceu coisa de outra pessoa, demorei a me acostumar com a ideia de que eu tinha escrito. Depois, na sessão de autógrafos, foi uma alegria enorme, muita gente compareceu, foi um grande sucesso o lançamento. Afinal, esse livro foi publicado em 1981, eu era conhecido por todos como advogado, ninguém sabia que eu escrevia.

HS: Fale, por favor, um pouco sobre o seu livro “Unhas”. De onde tirou a inspiração para escrevê-lo. Como efetivamente nasceu essa ideia?
Paulo: “Unhas” nasceu, literalmente, num engarrafamento de trânsito. Naquela época eu estava trabalhando em outro romance, a Gargalhada de Julieta, que somente agora foi concluído e enviado para a editora. Era um final de tarde chuvoso, o trânsito totalmente parado. Eu ouvia, no rádio, um programa esportivo quando, sem mais nem menos, uma frase surgiu na minha cabeça: “Estava cortando as unhas dos pés, sentado na privada, quando faltou luz”.
Essa frase não me deixou em paz, até que cheguei em casa e fui direto para o computador. Escrevi a frase e não parei mais. Não tinha a menor ideia do que viria a seguir e somente depois de escrever umas vinte páginas é que o personagem se revelou um exterminador de paixões proibidas.

HS: O que você esperava de “Unhas”. Como imaginou que seria a recepção dos leitores e como ela tem sido de fato?
Paulo: Como sempre, quando um livro é publicado, a expectativa é grande. Minha primeira surpresa foi, após enviar o manuscrito para oito editoras, receber um telefonema da Editora Leya, que recém abrira sua filial no Brasil,contratando o livro para publicação. Vibrei. Munca imagino como será a recepção dos leitores, isto é uma coisa sobre a qual não se tem o menor controle. É claro que meus pré-leitores gostaram muito do livro e isto foi um indício. Posteriormente, depois de publicado, ele causou algum reboliço por aí, recebi, numa proporção de sete para três, resenhas e críticas muito elogiosas. Porém os que compuseram o “três”, simplesmente detestaram o livro. Muitos destes confundiram o livro com o personagem e, ao invés de criticar a obra, criticaram o personagem, o que me parece um equívoco de avaliação. Qualquer pessoa mais ou menos saudável terá que detestar o personagem Unhas. Uma pessoa me escreveu dizendo que jogou o livro pela janela, de tão nojento. Mas outros falaram em obra-prima, revolução editorial, inovação, etc, etc. É claro que dou valor às opiniões, elas são importantíssimas, tanto as boas quanto as ruins. Sem ser pretencioso, considero que Unhas é muito mais do que um romance poilicial. Ele não foi escrito para ser um romance policial, acho que é mais um enfoque sobre a loucura humana e de que modo as pessoas justificam seus erros e seus crimes. Unhas é um livro que, lançado em agosto de 2010, ainda rende resenhas e comentários, sobretudo nos blogs e nas redes sociais.

HS: Que tipo de livros você gosta de ler?
Paulo: O primeiro livro que li, isto é, eu era leitor de gibus e com onze anos, tive que ficar de cama por uns dias devido à uma cachumba, foi Reinações de Narizinho, do Monteiro Lobato. Considero esse escritor fundamental, inclusive na minha formação pessoal. Através dele descobri que era muito bom ler sem figurinhas e minha imaginação voou com toda a sua coleção infantil. Os Doze Trabalhos de Hercules li umas dez vezes, sem exagero. Depois Machado de Assis que devorei. Aí descobri Aloísio de Azevedo e seu grande livro O Cortiço, para mim o primeiro verdadeiro romance brasileiro.
Em seguida, os franceses, Maurice Druon, Sthendal, Victor Hugo, Erich Marie Remarque, gostava muito também de Molière e Corneille, Sartre, Simone du Bauvoir, Lamartine e Alfred de Musset na poesia e vários outros. Os autores russos, que li também, eu achava meio chatos, pela quantidade de personagens e apelidos e abreviaturas dos seus nomes. Mia tarde comecei a ler romances policiais, Maigret, Arthur Conan Doyle, Agatha Christie. Mais adiante me apaixonei por Fernando Sabino e Rubem Braga – quando descobri a crônica – gênero que gosto muito de produzir. A Bíblia também foi uma leitura importante.

HS: Quais são seus escritores favoritos?
Paulo: Dos escritores atuais, gosto muitíssimo dos americanos Phillip Roth e Paul Austner, no Brasil de Ruben Fonseca. Não posso dizer que tenho escritores favoritos, Gabriel García Marquéz, por exemplo, é um grande escritor com Cem Anos de Solidão, mas não gostei assim, de ficar enlouquecido, de nenhum outro livro dele. Mario Vargas Llosa é outro, genial. Adro Benedetti, do Uruguai, gosto muito do Cortázar e, para desespero de muita gente, acho a Clarice Lispector uam chatice.

HS: Existe algum personagem (de suas obras) com o qual você se identifique?
Paulo: Não. Mas acho que, em todos sos meus personagens, há um pouco de mim. Talvez aquele com quem eu mais me ache parecido é o personagem de Os malditos (Ed. Bertrand), não pelo que ele faz, mas pelo que ele pensa.

HS: O que vem primeiro, livro ou título?
Paulo: Quando o livro é de crônicas o título vem depois. No meu último livro de crônicas, Outro Vagabundo Toca em Surdina, o título foi escolgdo dentre outros cinco que eram, também, títulos de crônicas.
Quando se trata de um romance, geral o título vem depois. No caso de Unhas, por exemplo, foram várias alternativas, O Paraíso não cabe no céu quase emplacou. Mas, quando escrev aquela primeira frase que contei, acima, ao salvar o arquivo, o nome que me ocorreu foi Unhas, porque a história começava com o sujeito cortando as unhas dos pés. E foi ficando, ficando, até que, depos de muita discussão com a editora, ficou.

HS: Você possui alguma mania da qual não abre mão?
Paulo: Se você está perguntando sobre processo criativo e coisas assim, não. Sou muito disciplinado, isto é, escrevo todos os dias das 11 da noite às três da madrugada. Mesmo em dias em que nada consigo escrever, estou trabalhando no meu texto, revendo, corrigindo e outras coisas. Se isto é uma mania, não abor mão dela. Considero que escrever é mais um turno de trabalho, no meu dia, que só começa pelas onze da manhã, porque afinal eu também tenho que dormir. Das onze às seis da tarde, sou advogado, trabalhando no meu escritório, com algumas incursões literárias, quando dá tempo. Depois vou para casa curtit minha família e, principlamente Luiza, minha neta que faz dois anos em junho. Quando tudo se aquieta e se não tiver jogo do Internacional, vou para o computador.
Na vida pessoal, não sei se tenho manias. Por exemplo, não consigo usar as mesmas meias. Gosto de silêncio (quase nunca consigo) durante o café da manhã. Não saio de casa sem tomar banho. Coisas desse tipo. Ah, sim, sou fumante e não abro, mas isso não é mania, é vício.

HS: O que você busca passar para os seus leitores com seus livros?
Paulo: Lietratura, para mim, é uma forma de arte que utiliza a palavra como expressao. Sua finalidade não é mudar o mundo nem mudar as pessoas e sim, provocar prazer, seja pela emoção, pelo medo, pelo suspense, pela beleza. O que desejo é que meus leitores gostem do que estão lendo, queiram ler mais e fiquem chateados quando o livro terminar.

HS: Obrigada pela entrevista. Deixe um recado para os leitores e futo]uros escritores.
Paulo: Eu é que agradeço pela entrevista e, como recado, tenho a dizer o seguinte: Ninguém é obrigado a gostar de ler. A leitura é um gosto, como qualquer outro, então o que sempre digo, em palestras e entrevistas é: Se você nunca leu, experimente. Se gostar continue. Porque uma coisa é certa: Quem lê se diverte mais do que quem não lê.
Quanto aos futuros escritores, só uma palavra: Disciplina.

É isso aí pessoal, espero que tenham apreciado acompanhar essa breve conversa com Paulo Wainberg. Ele é sem dúvida uma pessoa franca e direta, e é, também ótimo escritor. Se ainda não leu nenhuma obra de Paulo Wainberg não perca a oportunidade!
Até a próxima!

One Comment

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  1. Read the Full / Out 13 2012 13:04

    Good day! This is my 1st comment here so I just wanted to give a quick shout out and say I genuinely enjoy reading your blog posts. Can you suggest any other blogs/websites/forums that cover the same subjects? Appreciate it!

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